quarta-feira, 8 de julho de 2009

O RÁDIO E A REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE 1932

Em 11 de junho de 1931 entrou no ar a emissora que pouco tempo depois ficaria conhecida como a voz da revolução constitucionalista: a Rádio Record. Paulo Machado de Carvalho recebeu a proposta de Alvaro Liberato de Macedo, dono da casa de discos e da Rádio Record, para que adquirisse o até então pouco explorado veículo de comunicação. À época viviamos ainda o período das rádios clubes e sociedades, mantidas com as mensalidades dos associados, já que a propaganda não era permitida. Em São Paulo, havia apenas a pioneira Educadora Paulista.


Ouça o programa de hoje na íntegra.(se o player não estiver visível, clique aqui)


Painel alusivo ao Movimento Constitucionalista,
nas dependências da Rádio Record.


Na revolução constitucionalista de 32, quando São Paulo se insurgiu contra o regime ditatorial de Vargas, a Record ganhou importância em todo o Brasil. O jovem César Ladeira, que havia chegado há pouco de Campinas, torna-se a principal voz daquele movimento armado que visava a derrubada de Getúlio Vargas. Tudo começou ainda em 31...

Por essa época, Ladeira, até então um jornalista do Correio da Tarde, experimenta a voz na Record. No dia seguinte, escreve o artigo "Se eu fosse speaker":

"Se eu fosse 'speaker' de alguma estação transmissora, chegaria junto ao microfone com a maior sem-cerimônia deste mundo, e diria simplesmente: Meus amigos... o 'speaker' não se deve limitar a repetir como uma maquina o que está no papel. Precisa ser um amigo das pessoas que o estão ouvindo. A sua saudação deve causar prazer, deve ser espontânea, de casa, que entra sem bater na porta, sem pedir licença, familiar, amiga:
-Olá, bom dia, como vai?
Conversar com o grande público invisível - eis o lema do 'speaker' de colarinho mole. 'Speaker' moderno. Da época. "

Em 1932, César Ladeira é a voz qu enão guarda distância do ouvinte e comanda a popularidade da emissora paulista. Reconhecido como o amigo de toda a gente, ele é o apresentador do primeiro programa de variedades do rádio paulistano

Quando as manifestações ganham força em 23 de maio de 32, a Rádio Record empresta seus microfones para a leitura de um manifesto do movimento estudantil. Naquela mesma noite, choques entre os manifestantes e os membros da Legião Revolucionária resultaram na morte dos estudantes Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo. O trágico desfecho se deu bem em frente à sede da Record, à Praça da República, 17. Do acontecimento surgiu a sigla MMDC, que passou a ser a bandeira do movimento.

No dia 9 de julho daquele ano de 1932, a revolução, que já vinha sendo articulada desde abril de 1931, teve início. A Record passa a levar ao ar mensagens patrióticas que representavam São Paulo contra o regime Getulista. Essas mensagens geralmente eram textos do poeta paulista Guilherme de Almeida.

Desde os primeiros instantes, a Record lidera a revolução. Em frente à sede da emissora, um alto-falante transmite os discursos inflamados de César Ladeira, Nicolau Tuma, Renato Macedo e Licínio Neves. O povo se reunia para ouvir os textos inflamados transmitidos por eles.

Em 11 de setembro, a Folha da Noite escreve:
"A Record está sonorizando a Revolução Constitucionalista. Não lhe basta fazer estremecer o microfone com a voz de César Ladeiar, o mestre sala da oratória bonita, que põe arrepios, às vezes, na gente. Não lhe basta. Sua ação se alonga. Dá um instrumental gostoso aos seus artistas. E os põe, ciganos fardados, nos palcos das cidades que as granadas atingem e a que se atiram os soldados que querem limpar seu suor e pensar suas feridas. E os põe nos coretos dos jardins, inchando hinos, incitando a marcha dos capacetes de aço".

A emissora que representava o governo na então capital federal, a Rádio Philips do Brasil, tenta quebrar a resistência paulista contrapondo seus discursos e anunciando que os rebeldes paulistas estavam recuando.

A voz da revolução, como passa a ser chamada a Record, repercute nas madrugadas cariocas em réplicas aos insultos da Philips e em boletins mimeografados espalhados por toda a capital federal com o teor da irradiação do dia anterior.

Ouça outra voz da revolução, o saudoso Nicolau Tuma, que em entrevista a Geraldo Nunes deu sua versão dos fatos no programa São Paulo de Todos os Tempos, da Rádio Eldorado...

A derrota e a rendição dos rebeldes constitucionalistas põem fim à guerra civil. O papel desempenhado pela Record, que logo foi acompanhada pelas outras emissoras paulistas: Cruzeiro do Sul e Educadora, confirma e potencializa o rádio como importante meio de comunicação de massa.

O jornalista Franklin Martins, antes de assumir o papel de homem forte da comunicação de Lula, em seu blog, afirma sobre a Revolução de 32: "Pelo menos até 1934, quando foram realizadas eleições para a Assembléia Constituinte e foi votada a nova Constituição, Vargas exerceu o poder de forma inteiramente discricionária – e somente rendeu-se à necessidade de consultar as urnas depois de o Brasil ter passado por uma curta guerra civil, com a eclosão da Revolução Constitucionalista de 1932. O movimento desencadeado por São Paulo, embora derrotado militarmente, acabou inviabilizando em termos políticos a pretensão de Vargas de comandar sozinho o país desde o Palácio do Catete."

Para terminar, sugiro a audição da versão de Guerreiros Paulistas para "Paris Belfort", tema usado como marcha do movimento paulista nos discursos levados ao ar pela antiga Record.

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